quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ESTRANHO VISITANTE

Um acontecimento inexplicável, um desaparecimento e uma possível ligação ainda mais nefasta entre os dois fatos levantam cismas em um jovem sobrevivente que viu sua família ser destruída durante as férias de verão...
 
 
Estranho Visitante


            Recentemente li em alguns blogs e sites sobre paranormalidade os casos sobre o “Homem Esguio” (Slender Man) e, com arrepios, me lembrei de um caso que ocorreu quando eu ainda era criança... Minha memória antes rateava sobre o que vou contar em seguida, mas após ler sobre os diversos casos que hoje as pessoas chamam de “creepypasta” ela se reavivou e, para meu tormento e tristeza trouxe novamente em minha mente, coração e espírito a lembrança daquelas férias.
            Ainda não sei se realmente o que ocorreu está ligado ao mito de Slender Man, mas tudo foi tão estranho que algo dentro de mim começou a apontar para esta explicação ao mesmo tempo em que, em alguns momentos, me sinto apenas um tolo tentando explicar algo inexplicável... É um sentimento muito confuso e vocês vão entender o motivo.
 
            Eu tinha entre 06 e 07 anos de idade, meu irmão mais velho 10 e minha irmãzinha 04, minha não estava chegando aos 40 anos e minha avó, a quem visitávamos todas as férias de verão, tinha quase 70 anos e era muito lúcida e ativa. Digo isto e nossas idades para que possam perceber que estávamos acompanhados por adultos lúcidos e ativos com idades não muito avançadas para serem considerados senis assim como possam talvez considerar tudo isto um delírio de infância. Além disso, meu tio de Steve um homem jovem, também lúcido e ativo, um caçador sem igual dotado de um censo prático difícil de ver nos dias de hoje também testemunhou os fatos ocorridos durante nossa estadia na casa de nossa avó.
            Minha avó residia em uma grande casa isolada na estrada, que depois foi renomeada para o sobrenome de meu avô e depois de muitos anos renomeada novamente para os típicos nomes sem graça e que não dizem nada e são muito comuns na América. Meu tio Steve, irmão de minha mãe e pouco mais novo que ela, morava na propriedade seguinte, as duas possuíam cerca de 1.000 hectares, ele ajudava minha avó a cuidar da propriedade dela e tinha alguns empregados para cuidar das terras dele, então era muito comum o tio Steve estar pela casa ou nos pomares, galinheiros e chiqueiros que minha avó mantinha, mas isto quando ele não estava caçando pela mata com um dos rifles de sua vasta coleção de armas.
            Nossas histórias geralmente começavam assim: “Ei, vocês lembram aquela vez em que o tio Steve estava caçando e...”, ou “E quando Steve se escondeu na vala com a espingarda e...”. Todos riam, porque os fatos eram muito comuns, era quase impossível identificar uma história específica com este início, pois como já disse, tio Steve era um caçador e este era seu maior prazer e em suas aventuras já havia acontecido de tudo e ele se gabava por já ter visto de tudo. Depois, tristemente ele percebeu que isto não era verdade.
            Bem, a vida no campo sempre começa cedo e mesmo de férias tínhamos que acordar bem cedo, claro que não cedo quanto minha avó, mas ainda assim era bem cedo e em mais uma das manhãs nas quais ainda caídos de sono tomávamos um ótimo café da manhã preparado pela avó ouvimos um barulho de bater de porta de automóvel, nos entreolhamos, pois não havíamos ouvido barulho nenhum de motor e de alguma forma sabíamos que aquele barulho não era da caminhonete do tio Steve. Alguns anos atrás a região da estrada foi assolada, como minha avó costumava dizer, por uma “praga de ladrões e bandoleiros”, sendo assim minha avó se aproximou cuidadosamente da janela observando o enorme espaço lá fora.
            Seguindo minha mãe também nos aproximamos de uma das janelas, dali pudemos observar que havia na frente casa uma caminhonete muito velha e enferrujada eu nunca havia visto uma daquelas. Era um monte de sucata que não parecia poder rodar um metro sem se despedaçar, ela estava trepidando como se estivesse com o motor ligado, mas não ouvíamos barulho algum também não havia motorista dentro dela. Sentimos uma tensão imediata ao avistar aquela velharia lá fora e minha irmãzinha se agarrou à mim e sussurrou algo que não compreendi, quando ia pedir para ela repetir minha avó surgiu por trás de nós e nos afastou da janela.
            Ela já havia vivido naquela região e certamente já havia passado por mais coisas do que já havia nos contado e era visível no rosto dela a tensão, ela nos colou atrás do sofá enquanto minha mãe mudou de janela para tentar observar melhor a área próxima à porta. Minha avó foi para a cozinha e pegou uma faca, eu lembro claramente agora da firmeza de com que ela segurava o cabo da faca de desossar e a destreza de seus movimentos apesar da preocupação estampada em seu semblante.
            Minha mãe chegou a comentar com minha avó sobre onde estavam os cães, minha avó tinha quatro cães grandes na propriedade que estavam sempre vagando ao redor da casa, mas naquele momento todos eles tinham desaparecido. Antes que minha avó pudesse responder sobre os cachorros uma sequência de batidas fortes e rápidas foram efetuadas na porta da frente. De trás do sofá, onde nós tremíamos de medo, demos em uníssono um gripo de susto.
            As batidas na porta cessaram logo depois, olhei para minha irmã e ela estava olhando para mim, afaguei a cabeça dela tentando confortá-la e tentei inutilmente mostrar para ela que eu não estava com medo. Ela sussurrou novamente para mim e desta vez pude compreender “Deve ser aquele cara magro que fica olhando quando estou com as bonecas lá fora”.
            Eu estranhei aquilo, mas não dei atenção, apenas fiz sinal para ela ficar quieta e segurei a mãozinha dela. Não posso afirmar que ela se referia a Slender Man, ou nem mesmo se aquilo não foi imaginação dela... Mas a verdade é que aquele dia foi um dos últimos em que estive tão próximo dela, foi o último dia em que afaguei os cabelos dela e seguirei sua mãozinha... Deus.
            Da janela minha mãe tentava visualizar o lado de fora da porta, mas não conseguia ver a área toda, a caminhonete ainda estava lá e no momento em que minha avó se aproximava da porta as batidas recomeçaram, minha mãe soltou um pequeno grito de susto e nós crianças voltamos a nos encolher atrás do sofá. De repente começaram a bater também nas portas dos fundos com o mesmo vigor que literalmente socava a porta da frente, parecia que a qualquer momento a madeira iria quebrar.
            Logo começamos a ouvir os mesmos socos nas duas portas do porão da casa e o estrondo parecia fazer tremer o assoalho sob nossos pés, minha mãe começou a correr apavorada de um lado para outro até que jogou-se junto de nós atrás do sofá enquanto minha avó permanecia firme junto à porta da frente virando-se constantemente para observar a entrada dos fundos. Foram longos minutos de terror até que ouvimos o barulho da caminhonete do tio Steve, minha mãe gritou “Steve, graças a Deus! Steve, aqui! Tenha cuidado!”.
            As batidas contra as portas cessaram instantaneamente.
            Ouvimos uma freada brusca da caminhonete com os pneus grandes e largos se arrastando na terra, minha mãe se levantou e correu para a janela, nós corremos atrás dela, ficamos aliviados com o cessar das pancadas, mas nos sentimos muito mais seguros em saber que nosso herói estava ali. Tio Steve, com sua vasta coleção de rifles e sua experiência em caçadas.
            Da janela vimos tio Steve com um enorme rifle se aproximando da caminhonete invasora, ele se aproximava cuidadosamente apontando o rifle para o veículo. Ele se aproximou e olhou pela janela, percebemos sua expressão confusa depois ele olhou para dentro da caminhonete novamente e passou a mão pelo rosto. Atentamente ele deu a volta na caminhonete e foi se aproximando da porta da casa, ele caminhava um pouco curvado, com o rifle preparado e apontando para diversos pontos a faca de caça pendendo em seu cinto e o chapéu de caçador jogado para trás da cabeça.
            Quando ele estava próximo à porta minha mãe fez sinal à minha avó que abriu a porta ainda com a faca na mão. Com a voz grave Steve disse: “Eu sempre digo que a senhora precisa ter armas aqui”. Todos nós corremos para perto dele, quanto mais perto mais seguros nos sentiríamos, ele sorriu para nós e neste momento ouvimos o barulho do motor da caminhonete, como um raio Steve se virou e fez um disparo, um buraco do tamanho de uma moeda se abriu no meio da ferrugem da porta do veículo. Minha avó e minha mãe nos empurrou para longe da porta e voltamos para nosso esconderijo atrás do sofá.
            Tio Steve correu para a caminhonete que continuava com o motor ligado, não haviam dúvidas de que ele havia acertado o maldito invasor, mas quando ele se aproximou o veículo acelerou e saiu em disparada. Meu tio ainda teve tempo de fazer mais um disparo que estourou o vidro traseiro antes que a caminhonete ganhasse a estrada, neste momento Steve ficou abalado, pois quando a caminhonete fez a curva para pegar a estrada ele viu que não havia ninguém na direção.
            Minha mãe foi até o centro com a caminhonete do Tio Steve avisar a polícia e quando ela voltou com uma viatura, ele já havia verificado toda a área, não haviam marcas de pegadas ao redor da casa e muito menos próximas às portas. Ele também contou para a polícia que a caminhonete do invasor não tinha identificação e, neste ponto em tom ainda mais grave, quando olhou dentro encontrou muitas marcas de sangue e também diversos objetos como algemas, cordas e ganchos... Nenhum de nós pode fazer uma descrição do invasor, pois em momento algum pudemos ver alguma pessoa.
            Ficamos ainda mais algumas semanas na casa de minha avó, tio Steve trouxe duas espingardas e duas pistolas para minha avó, que não gostou nada, mas aceitou devido aos últimos acontecimentos. Os dias foram passando e as coisas foram ficando mais calmas, tio Steve vinha com mais frequência ficar conosco.
            Nunca conseguimos explicar o que aconteceu naquele dia: Como ninguém ouviu o barulho da caminhonete enferrujada do invasor? Como todas as portas quase vieram abaixo com as estrondosas batidas ao mesmo tempo? Como não vimos ninguém? Todos se incomodavam com o assunto, principalmente quando alguém dizia que não havia ninguém ao volante do veículo. Mas o horror maior ainda estava por vir...
            Nosso último dia de férias de verão na casa da avó, com vontade de aproveitá-lo ao máximo fomos brincar fora de casa logo cedo, meu irmão e eu ficamos brincando nos galhos de uma árvore à beira da estrada e minha irmã um pouco mais distante ficou sentada na grama com diversas bonecas. Não pensávamos mais no caso da caminhonete a alguns dias, tudo estava calmo e o dia quente e agradável, vez por outra percebíamos nossa mãe nos olhando pela janela da sala. Logo após o almoço Tio Steve chegou com seu largo sorriso e a faca de caça no cinto, vimos a caminhonete dele ao longe e me lembrei pela primeira vez em dias do caso do invasor, de como tio Steve disse ter sentido um sentimento ruim quando da estrada viu a lata-velha parada no terreno da casa.
            Ele parou a caminhonete bem debaixo do galho da árvore em que estávamos e nos disse para pular na caçamba, às gargalhadas meu irmão e eu fizemos isso. Minha mãe observava tudo da janela, pois ouviu o barulho do motor e foi ver que era. Tio Steve gritou para ela: “Olá! Onde está Baby?” - Que era como ele chamava minha irmãzinha e continuou: “Vou leva-los para brincar no lago.”. Eu olhei curioso para o lugar em antes Anne estava e somente vi as bonecas, achei estranho pois ela sempre era a primeira a correr para a caminhonete quanto nosso tio chegava.
            Vi a preocupação no rosto de minha mãe, que começou a chamar por ela, minha avó saiu na porta secando as mãos, eu tive um calafrio. Em poucos minutos estávamos todos a procurar por ela, minha mãe nos arredores da casa; meu irmão, minha avó e eu dentro da casa e meu tio na parte mais afastada da propriedade.
            A tarde foi chegando ao fim e não tínhamos o menor sinal de Anne, minha mãe pegou novamente a caminhonete do tio Steve e foi para o centro avisar a polícia, enquanto ele pegou algumas coisas e se embrenhou na floresta. Foi uma longa noite de buscas... Revirando na cama me lembrei de quando ela me sussurrou sobre a pessoa que a ficava observando enquanto ela estava brincando e fui contar para minha mãe, que logo avisou aos policiais. Ninguém levou aquilo muito a sério.
            Não voltamos para a escola naquele ano, pouco tempo depois nos mudamos para a casa de minha avó e tio Steve passava a maior parte do tempo procurando pistas. Nunca mais vimos Anne... Minha avó morreu dormindo 3 anos depois do desaparecimento e minha mãe desistiu de viver quando eu tinha 13 anos, meu irmão decidiu mudar de cidade tão logo terminou a escola e nunca mais nos falamos.
Tio Steve nunca parou de buscar por Anne, como já disse, apenas recentemente fiquei sabendo do mito “Slender Man” e, o que me choca é a semelhança do que minha irmã sussurrou para mim naquele dia com os relatos que li recentemente. Não sei dizer se os eventos daquelas férias são isolados, ou estão terrivelmente ligados... Seriam parte da mesma coisa Slender Man e aquele invasor invisível?

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